segunda-feira, 17 de setembro de 2012

reflexo

não vi o meu reflexo na vidraça da loja
não exatamente
vi nas minhas sua iris, vaga
no meu corpo, o seu presente, vago
nova espécie
ente duplo doente
nativivo moribundo
que pelo curto tempo de vida
e condição de mutação indevida
parece ter o bônus
de entender por inteiro a breve existência de si
pois nasce sabendo que o fim
é primeiro

da nossa imagem já vi o bastante
volto bem pro que faço
passo ando
e assim no papel de alma deixo o seu corpo
deixo etéreo nossa imagem virtual
e a nossa criação desfalece
amorfa, inerte,
você
e o que assusta é a sua negligência,
o jeito como já se vira e fala com alguém
nem se lembra de alguma coisa:
o que você viu não era seu
o pesar não é seu
tampouco o quase
sorrio
não viu que de dentro
onde se acha ver o que acontece
não reflete,
nunca refletiu